Assim como a ave Fênix ressurge de suas cinzas e suas lágrimas são capazes de curar qualquer ferida, eis que surge novamente Chicago.
Pode-se definir a Escola, a grosso modo, como um conjunto de profissionais de diferentes tipos e ambições, com um objetivo em comum: criar das cinzas de Chicago uma arquitetura de identidade estadunidense.
O corpo de pioneiros desta nova escola é composto por engenheiros formados no Gênio militar durante a Guerra de Secessão. A Escola de Chicago, como foi denominada, tem como protagonistas iniciais William W. Boyington (1818-1898), J. H. van Osdel(1811-1891) e William Le Baron Jenney (1832-1907), o último considerado o mais importante destes, do qual saem de seu escritório importantes seguidores da escola como Daniel H. Burnham (1846-1907) e Louis Sullivan (1856-1924).
A vanguarda da Escola de Chicago tem como uma de suas preocupações a pesquisa de materiais e novas formas de construir. Através destas pesquisas surgem materiais a prova de fogo para revestir as estruturas dos edifícios, Le Baron Jenney segue suas ambições de erguer edifícios de vários pavimentos. Os artistas da Escola de Chicago observavam as discussões européias mas simplesmente aspiravam por um estilo “americano”.
“Na verdade, as casas construíam-se com bases em desafios e não de acordo com modelos estilísticos antigos.”
(ARTE NOVA
Desta forma, e através do grande conhecimento de Le Baron Jenney (foto a esquerda), formado na École Polytechnique e na École Centrale em Paris, Chicago se destaca novamente no quesito técnicas construtivas. A estrutura em aço, ou esqueleto em aço, aperfeiçoada por Le Baron Jenney possível ganhar alguns andares a mais, inicialmente ganhos em altura no depósito que construiu para Leiter, com pilares de tijolos nas paredes externas e colunas de ferro fundido em seu interior.
“(...)Jenney não tinha nenhuma sensibilidade para o detalhe e o
ornamento. É verdade que o detalhe arquitetônico e os traços estilísticos
desempenham, na obra de Jenney, um papel de pouca importância.”
(Giedion)
O grande atrativo dos edifícios de Chicago não estão nos ornamentos mas sim escondidos atrás do revestimento. Os primeiros edifícios que aparecem de são de escritórios e companhias de seguros. Com o crescimento na década de 80, devido a localização da cidade no mapa, como já foi citado, cria-se em Chicago o que foi chamado de Loop, um grande centro de negócios que gera posteriormente um grande aglomerado de arranha-céus. Devido à demanda, surgem também edifícios que servem como grandes hotéis, e edifícios mistos, do tipo escritório-hotel-teatro, para abrigar viajantes que por ali passavam.
Além do aperfeiçoamento do esqueleto de aço de Le Baron Jenney, também chamado de “estrutura de Chicago” (figura a direita), outras invenções foram de suma importância para os projetos de alta estatura que ali começaram a surgir. Invenções como, elevador, correio pneumático e telefone tornaram possível o bom funcionamento do que ali em Chicago começava a se instalar, e posteriormente tomaria espaços nas grandes cidades dos Estados Unidos e do mundo: o arranha-céu. “O arranha-céu é outra aplicação típica do procedimento abstrativo próprio da cultura arquitetônica americana, tal como a planta quadriculada. É sempre julgado severamente quando é considerado como uma imagem de perspectiva, pois é um dispositivo indefinido, destituído de proporção e de unidade; como diz Wright, é ‘um estratagema mecânico’ para ‘multiplicar as áreas aafortunadas tantas vezes quanto for possível vender e revender a área do terreno original. Quando, contudo, deixa-se de lado o significado depreciativo que deriva da comparação com os hábitos de visão tradicionais, percebe-se que tais juízos apreendem exatamente um novo procedimento mental, o qual contém – por enquanto sob forma rústica e embrionária – um novo modo de ver a arquitetura, e exige que seja julgado com novos critérios formais.” (Benevolo)
Para Emilio Cecchi, o arranha-céu, assim como o loteamento das quadras, não passa de uma “operação aritmética”, no caso da primeira, uma multiplicação (da área do terreno, como diz Frank Lloyd Wright) e a segunda o oposto, a divisão de uma determinada área. Para ele, nenhuma delas podem ser consideradas realidades arquitetônicas, mas sim, agentes modificadores da cena urbana e arquitetônica. Le Baron Jenney começa a utilização da estrutura de Chicago com o depósito que ele faz para Leiter, em 1879, mas o primeiro edifício de fato construído inteiramente em estrutura metálica é o Home Insurance Building, de 1885. Os aprimoramentos de seus conceitos vêem no segundo edifício que Le Baron Jenney projeta para Leiter, o Leiter Building e com o Fair Building.
fig.01/fig.02 fig.03
fig.04
[FOTOS]: fig.01:First Leiter Building (1879), fig.02:Second Leiter Building (1889), fig.03:Home Insurance Building(1885), fig.04:Fair Building(1889). Todos de autoria de William Le Baron Jenney.
A partir disso, os edifícios do Loop de Chicago atingiram alturas nunca antes vistas, como o Manhattan Building, que em 1890 atinge, pela primeira vez, 16 andares, afim de conseguir luz por cima de uma rua estreita. A estrutura metálica, por ser mais resistente que a de alvenaria, tornou possível a abertura de grandes vãos que ajudam a iluminar naturalmente as áreas mais centrais do edifício.
Após o Manhattan Building, o Monadnock, de 1891, feito por Burnham e Root, é o próximo edifício de 16 andares a ser construído em Chicago. Burnham é fruto do escritório de Le Baron Jenney, e com influências de Jenney, possui traços simples em suas fachadas. Esta simplicidade estética nos projetos dos arranha-céus dá-se também pelo orçamento disponível pelo financiador da obra, afinal uma obra deste porte necessita de um grande capital a ser investido. Root posteriormente assume esta simplicidade como orientação estética.
Dos mesmos autores surge o mais alto edifício da velha Chicago, com vinte e dois andares, o Capitol, de 1892. Neste mesmo ano eles inovam a utilização da Steel Frame (estrutura de aço), que antes era usada somente nos prédios de escritórios, construindo o Great Northern Hotel. Dos edifícios construídos pelos parceiros Durnham e Root, o considerado mais belo edifício da época, e de maior importância histórica foi o Reliance Building, iniciado em 1894, com o projeto original possuindo apenas cinco andares em seu gabarito. Porém, em 1895, ano da morte de Root, Burnham muda de última hora, com a ajuda do engenheiro E. C. Shankland, o projeto e aumenta mais dez andares conservando o design original, apenas multiplicando o que já existia, em homenagem ao parceiro de profissão de tantos anos.
fig.05/fig.06
fig.07/fig.08 fig.09/fig.10
fig.11/fig.12
[FOTOS]: fig.05-06:Capitol ou Masonic Temple(1892); fig.07-09:Reliance Building(1890-95); fig.10:Great Northern Hotel(1892); fig.11-12:Monadnock(1891). Todos de autoria de Burnham e Root.